PIF em gatos: por que a doença ainda representa um desafio na prática clínica

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A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é considerada uma das doenças mais complexas no atendimento de felinos, principalmente por seu diagnóstico desafiador e pela indisponibilidade de tratamentos regulamentados no Brasil. Causada por uma mutação do coronavírus entérico felino (FCoV), a enfermidade acomete, em geral, gatos jovens ou imunocomprometidos, com progressão rápida e p rognóstico variável.

Segundo Isabelle Guimarães, médica-veterinária especializada em felinos do Nouvet, o ponto de virada da doença ocorre no momento da mutação viral dentro do próprio organismo do animal.

“A PIF se desenvolve quando o coronavírus entérico felino, geralmente inofensivo, sofre uma mutação no organismo do animal e se torna virulento e capaz de infectar células do sistema imunológico (macrófagos). Ela acomete gatos jovens (com menos de 2 anos de idade) ou felinos com o sistema imunológico comprometido”, explica.

Embora a maior parte dos casos envolva felinos domésticos, a doença também pode atingir felinos selvagens, como leões, leopardos e animais mantidos em zoológicos ou reservas.

As diferentes apresentações da PIF

A doença pode se manifestar em três formas principais: efusiva (ou úmida), seca (ou não efusiva) e mista. Cada uma apresenta sintomas distintos, afetando múltiplos sistemas orgânicos.

“A forma úmida (efusiva) é marcada pelo acúmulo de líquido na cavidade abdominal ou torácica, podendo ocorrer distensão abdominal, dificuldade respiratória, febre persistente e letargia”, pontua Isabelle.

Já a forma seca envolve lesões internas em órgãos como olhos, rins e fígado, podendo levar a sinais neurológicos, inflamações oculares e disfunções sistêmicas. A manifestação mista une características das duas formas, dificultando ainda mais a identificação precoce.

Os sinais clínicos variam amplamente e muitas vezes se confundem com outras doenças. Febre persistente ou intermitente que não responde a antibióticos, perda de peso, letargia, apatia e pelagem opaca são sintomas comuns em qualquer uma das manifestações.

Em casos mais avançados, podem surgir tremores, convulsões, alterações comportamentais, icterícia, vômitos, incontinência e dificuldades respiratórias, entre outros.

Diagnóstico ainda limitado em vida

Apesar dos avanços da medicina felina, o diagnóstico conclusivo da PIF ante mortem continua sendo um grande desafio. Isso ocorre tanto pela inespecificidade dos sinais quanto pela limitação dos exames disponíveis.

“Algumas alterações laboratoriais podem nos indicar PIF, como anemia não regenerativa, alterações no leucograma e na contagem de proteínas totais (principalmente globulinas), além de análise do líquido cavitário, quando presente. Na imunohistoquímica ou na imunofluorescência, considerado padrão ouro no diagnóstico, é esperado encontrar antígenos do coronavírus em tecidos com lesão inflamatória. Porém, raramente esse exame é realizado em vida por ser invasivo”, esclarece a veterinária do Nouvet.

Exames de imagem ajudam a complementar a avaliação, permitindo a observação de linfonodos aumentados, líquido livre, alterações intestinais e possíveis lesões em órgãos internos.

Tratamento com antivirais ainda não regulamentado no Brasil

Nos últimos anos, terapias antivirais como o GS-441524 têm demonstrado eficácia significativa no controle da PIF, principalmente quando o tratamento é iniciado nas fases iniciais da doença. Contudo, o uso desses medicamentos ainda não é autorizado legalmente no Brasil.

“Devido a isso, o médico-veterinário não pode realizar qualquer aplicação das medicações e tão pouco prescrevê-las. Porém, é de responsabilidade do profissional realizar o devido acompanhamento e auxílio ao tutor”, comenta Isabelle.

Casos de resistência ao antiviral também vêm sendo registrados, o que reforça a importância de diagnósticos precisos, uso correto dos protocolos e acompanhamento veterinário contínuo. O prognóstico depende de diversos fatores, como o grau de comprometimento dos sistemas neurológico, hepático e renal, a adesão ao tratamento e a qualidade do suporte oferecido durante o processo.

Prevenção: o caminho possível

Embora a PIF em si não seja contagiosa, o FCoV — vírus original que pode sofrer mutação — é transmissível entre gatos, principalmente por contato com fezes contaminadas.

“Por isso, o controle ambiental é fundamental. Realizar higienização rigorosa das caixas sanitárias, separar as caixas sanitárias quando um animal doente estiver presente, reduzir aglomeração dos gatos (gatis e abrigos têm maior risco), fazer a desinfecção ambiental com detergentes e desinfetantes e isolar gatinhos positivos para FCoV são formas de prevenção”, exemplifica Isabelle.

Nem todos os gatos positivos para FCoV irão desenvolver a doença, mas reduzir o estresse, evitar consanguinidade, tratar comorbidades e manter boa nutrição e higiene são práticas essenciais para minimizar os riscos.

“Portanto, reduzir o estresse ambiental, não ter consanguinidade genética, tratar comorbidades e oferecer uma boa nutrição e manejo sanitário são deveres do tutor para prevenir a doença”, finaliza.

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